Um pouco do Processo do Filme

A idéia surgiu da Cristina, no dia 15 de abril onde o Willian (kinofórum) foi á Escola Livre de Cinema e Vídeo de Santo André, onde ambos trabalhávamos naquele dia. Ele foi dar uma palestra sobre a participação da Escola no Festival Internacional de curtas-metragens de São Paulo. Foi dado aos alunos o tema “20 anos da queda do Muro de Berlim”, para realizarem curtas para mandar pro festival. No final daquela noite a Cristina me abordou com a idéia. “Imagina só um homem que tenta entrar na estação de trem, pulando o muro, e quando ele pula não está na estação mas sim em outro lugar, e torna a pular o muro, e nunca estará na estação de trem, nem no lugar da partida.”

Imediatamente, respondi a ela que a idéia era bacana, e que tínhamos que amadurecê-la e roteirizá-la. O que mais me chamava à atenção era realmente essa inquietação do personagem, de não se inserir no local onde ia parar. De não se encontrar. Fermentava em minha cabeça a situação do homem (pedestre) na sociedade, Onde a cada dia se tem mais espaços para veículos, máquinas, prédios. E o homem se descaracteriza cada vez mais, em comparação as outras espécies.

Acabamos tendo inúmeras conversas sobre o tema e as possibilidades de gravarmos, a cada conversa trazíamos novas idéias, “não me esqueço de uma que tive, trazendo uma vivência de um dia, que depois de adulto que fui ao zoológico. Fiquei mais de hora olhando os chipanzés, depois conclui que está na hora de voltarmos um pouco as nossas origens”. Quando falei sobre os chipanzés pra Cris ela me olhou de uma forma que fiquei até sem jeito, e comentou “mas isso é muito doido”, é legal mas não acho que tem a ver, a idéia era que no fim do filme ele chegasse a um lugar com chipanzés e se encontrasse.

 Um mês depois fiz a primeira versão do roteiro, entreguei a ela, e combinamos que ela faria o próximo tratamento, algo que não deu tempo por deixarmos o tempo correr. Reescrevi o roteiro, e fiz a pesquisa estética e a decupagem do roteiro com fotos copiadas na internet.

Começamos a conversar sobre fechar a equipe, já havíamos falado sobre quem gostaríamos de trabalhar juntos, o primeiro nome que nos interessava, eu em especial, queria muito trabalhar com ela, a fotógrafa Andréia Iseki, minha veterana na Escola Livre, já tinha feito a ela até mesmo um convite ainda informal. Falando nisso a informalidade era uma das características que tínhamos com o projeto, pois queríamos trabalhar bem tranqüilos, e sem a obrigação de fazer um grande filme. Nosso objetivo era realmente experimentar, partindo daí reunimos outras pessoas que nos identificávamos, como a também fotografa e aluna da ELCV Débora trindade.

Queríamos formar uma equipe pequena e de fácil de se articular pra ir pras locações, que todos coubessem em apenas num carro de passeio, então seriamos em cinco pessoas. Daí só nós, mais o ator, a equipe estaria fechada. O ator, optamos pelo Clayton Freitas que também já tinha feito outros dois curtas com a Corja, (22.1, Depois do Estopim). A Cris não o conhecia pessoalmente, e ele não tinha o perfil que ela imaginava. Mas ele deu conta de sobra, impressionando pela sua vitalidade, qualidade cênica e muitos outros aspectos.

Um dia antes da gravação fizemos a primeira e única reunião de produção e equipe, onde levei todo o material impresso.
Antes de a equipe chegar estávamos eu e a Cristina, onde ela tirou da bolsa uma poesia de sua autoria, me deu pra ler e depois me explicou da onde era essa poesia, havia escrito pra uma amiga que tinha síndrome do pânico. Adorei e pedi uma cópia, combinei com ela que usaria essa poesia como material pra estimulo do ator, além disso gravaríamos no fim da diária, em estúdio pra podermos utilizada em voz off.

Deixamos bem claro a equipe que todo aquele material era uma pesquisa, onde todos na gravação poderiam estar criando, palpitando e discutindo a favor da realização do filme, desde que não perdêssemos o objetivo. O mais engraçado é que todos ficaram apreensivos com a nossa postura, pois dar essa liberdade poderia ser um tiro no pé. Ninguém está acostumado a ter liberdade em projeto que não é seu.

Um outro acordo entre nós era que faríamos apenas uma diária, e que teríamos do amanhecer ao anoitecer do dia pra gravar tudo. Além do mais não usaríamos nenhum refletor, apenas a luz do dia, e rebatedores.

 No final dessa reunião acabamos cedendo e abrindo uma exceção, O Sérgio Luís, também aluno da ELCV, queria ir nas locações mesmo que por conta própria para fotografar o makking-off do projeto. È claro que toda ajuda é bem vinda, mas além de fotografo still, agregamos o Serginho como membro da equipe, enquanto tínhamos problemas técnicos o Serginho fazia ensaios fotográficos com o ator nas locações, deixei de usar a decupagem para utilizar as fotos dele como referência. Além disso o Serginho virou o editor do filme. O detalhe é que ele tinha uma semana pra entregar o filme pronto, combinamos que ele faria o primeiro corte, e só depois disso eu sentaria com ele pra afinar e meter o bedelho.

Uma das coisas que mais curto nesse projeto é como ele se deu. Nasceu como um embriãozinho, onde ele foi alimentado por todos os envolvidos, e esse é o motivo dele ter crescido. Isso é fruto de um trabalho em equipe, onde todos o alimentaram dando um pouco de si, seja solução, criatividade e generosidade.

Agradeço e Parabenizo todos da Equipe e Colaboradores.


- Edson Costa
Roteiro - Direção - Produção